quarta-feira, 18 de agosto de 2010
Reflexões - Lya Luft
Questionar o que nos é imposto, sem rebeldias insensatas mas sem demasiada sensatez. Saborear o bom, mas aqui e ali enfrentar o ruim. Suportar sem se submeter, aceitar sem se humilhar, entregar-se sem renunciar a si mesmo e à possível dignidade.
Sonhar, porque se desistimos disso apaga-se a última claridade e nada mais valerá a apena. Escapar, na liberdade do pensamento, desse espírito de manada que trabalha obstinadamente para nos enquadrar, seja lá no que for.
E que o mínimo que a gente faça seja, a cada momento, o melhor que afinal se conseguiu fazer."
terça-feira, 27 de julho de 2010
Sobre a nova lei contra palmadas
Violência gera violência, como a neurociência já constatou diversas vezes
CLARO que o objetivo não é colocar na prisão aqueles pais que, incapazes de resolver desavenças com seus filhos na base da conversa, recorrem à punição física na forma de "uma palmada bem dada", no afã de impor alguma sombra de autoridade.
O estatuto que proíbe a punição corporal de crianças visa a que se deixe de considerar normal, necessário ou saudável "educar" com violência. Como a sociedade que pune com prisão quem bate em velhinhos aceita que pais batam em suas crianças?
O problema tem vários níveis, e só um deles (ainda que de grandes consequências para as gerações futuras) é o seguinte: violência, não importa em qual forma, gera violência, como a neurociência já constatou várias vezes.
Funciona igualmente com camundongos e com humanos: o cérebro que recebe maus tratos na infância sofre várias mudanças, incluindo alterações em seu sistema de recompensa, que antecipa bons resultados; na amígdala, que sinaliza maus resultados; e no hipocampo, que forma memórias novas e cuida de nossa lista mental de "problemas a resolver".
O resultado? Crianças que recebem restrição corporal, palmadas, sacudidas ou abuso verbal (castigos que muitos consideram brandos) se tornam adultos com propensão a comportamento antissocial e agressivo, transtornos de ansiedade, depressão, alcoolismo e outras formas de dependência química.
"Mas eu recebi palmadas na infância e me tornei um adulto saudável, portanto, palmadas não fazem mal", dizem vários defensores das palmadas educativas.
Pelo contrário: graças à resiliência do cérebro (sua capacidade de se recuperar de agressões variadas), ao que tudo indica essas pessoas que sofreram maus tratos na infância provavelmente se tornaram adultos saudáveis APESAR das palmadas.
E, justamente por causa da capacidade do cérebro de se adaptar, essas crianças punidas com violência viraram adultos que hoje acham normal... punir com violência.
Felizmente existe antídoto, tão ao alcance quanto uma palmada. Também funciona com camundongos e crianças, também é comprovado pela neurociência, também muda o cérebro para o resto da vida e se autopropaga.
Chama-se carinho e, no caso dos humanos, se vier acompanhado de apoio moral, bons exemplos, compreensão e conversa, melhor ainda.
SUZANA HERCULANO-HOUZEL, neurocientista, é professora da UFRJ e autora de "Pílulas de Neurociência para uma Vida Melhor" (ed. Sextante) e do blog www.suzanaherculanohouzel.com
Fonte: Folha
domingo, 2 de maio de 2010
Os mistérios da rotina: uma análise do conto "A Auto-Estrada do Sul"
Os pequenos grandes problemas do cotidiano ocupam todo o nosso tempo. Horários a cumprir, contas a pagar, compras a fazer. A rotina diária nos preenche mesmo que não percebamos, e naturalmente passamos a realizar as coisas automaticamente, sem pensar: o ato de efetuar um saque em um caixa eletrônico ou retirar mensagens no mailbox torna-se tão banal quanto beber um copo d'água. A rotina nos conforta mas ao mesmo tempo há um quê de mecanização nos gestos e atitudes que tomamos.
As relações humanas também se ressentem dessa pressa constante do dia-a-dia nas grandes metrópoles. Nossos amigos e contatos, muitas vezes, restringem-se aos grupos com os quais convivemos diariamente: o trabalho, a faculdade, a família. Quantos de nós ainda alimentam as amizades cultivadas no primário? Quantos ainda mantém contato com ex-colegas de um antigo emprego? Nas grandes cidades o tempo torna-se mais relativo ainda: filas e congestionamentos fazem com que todos tenham pressa; as multidões andam a passos apressados, sem saber o porquê. Como na canção da Paulinho da Viola, "Sinal Fechado", as nossas relações acabam se limitando a um "olá, tudo bem?", ou um "prometo que um dia desses te ligo". Contudo, este dia sempre está sendo adiado. Afinal de contas, temos muito o que fazer.
"A Auto-Estrada do Sul", primeiro conto do livro Todos os Fogos o Fogo, cuja primeira edição foi lançada em 1966, é um relato típico na obra de Julio Cortázar, que busca a redescoberta do sentido humano, perdido em mundo contraditório, caótico, perturbador.
A ação começa em um terreno bastante conhecido por qualquer paulistano, principalmente aquele que se arrisca a viajar para a praia em feriado prolongado: um congestionamento na auto-estrada do sul, que leva a Paris. Tal ocorrência faz com que um grupo bastante heterogêneo de pessoas, que jamais se conheceria em outras circunstâncias, seja obrigado a se relacionar. Elaborei um esquema destes personagens de acordo com a localização espacial de seus carros:
Turista de Washington do De Soto Casal de velhos do ID Citroen roxo Senhora do Beaulieu Fiat 600 2HP "Taunus" (líder), seu amigo e o menino com o automóvel de brinquedo Dois rapazotes do Simca Casal camponês do Ariane (almoxarifado geral) Passageiro do DKW Moça do Dauphine Engenheiro do Peugeot 404 (vagão-leito/carro-ambulância) Duas freiras do 2HP (depósito suplementar) Motorista indignado do Floride Casal do Peugeot 203 e sua filha Homem pálido e solitário do Caravelle Soldado e moça "recém-casados" do Volkswagen O conto jamais revelará qual o motivo que causou o congestionamento-monstro que durará dias a fio, mas isso não possui a menor importância na história. Cortázar, ao lançar seus personagens nessa situação, pretende discutir como as relações humanas se tornaram tão fugidias, tão frágeis no mundo desumanizado das grandes metrópoles.
Na situação fantástica do conto, o tempo, tal como o conhecemos na contexto apressado dos centros capitalistas, perde todo o seu sentido: "qualquer pessoa podia olhar no relógio, mas era como se esse tempo, amarrado ao pulso direito ou ao bip bip do rádio, medisse outra coisa fora do tempo" 1.
A situação obrigará as pessoas a se conhecerem. O personagem principal do conto, o "engenheiro do Peugeot 404", trava contato com o pequeno microcosmos à sua volta: a moça do Dauphine, os rapazes do Simca, o casal de velhos do ID Citroen roxo, as freiras do HP, o Volkswagen do soldado e sua companheira, etc. Pouco a pouco estas pessoas, ao se conscientizarem de que a situação pelo qual estão passando não será tão passageira quanto imaginavam, sentirão a "sensação contraditória de enclausuramento em plena selva de máquinas concebidas para correr"2.
Forma-se então um novo grupo social que não tardará a elaborar uma série de regras de convívio. Afinal de contas, as pessoas estão acostumadas ao convívio em uma sociedade regida por leis, e possuem a necessidade de alguém que assuma um papel de liderança no grupo: escolhem um dos homens do Taunus. O conto, aliás, deixa bem claro que essa forma de organização se repetirá ao longo de todo o congestionamento: cada pequena aglomeração de carros elegerá um chefe. Mesmo em uma situação-limite como esta, os homens repetem as formas de organização a que já estão acostumados.
A vida continua, apesar dos incômodos e das privações. Carros tornam-se lares, e os personagens convivem como se fossem vizinhos de um condomínio: "os meninos do Taunus e do 203 tinham ficado amigos, depois brigaram mas logo se reconciliaram; seus pais se visitavam, e a moça do Dauphine ia de vez em quando ver como estavam passando a velha do ID e a senhora do Baulieu" 3. O Peugeot 404 do engenheiro será improvisado como um "vagão-leito" para os mais velhos. O Ariane do casal de camponeses se transformará em um "almoxarifado geral".
Mas nem todos mostrarão possuir a mesma capacidade de adaptação às circunstâncias: o motorista do Floride abandonará seu carro. Segue-se o suicídio do homem do Caravelle, ainda que o motivo seja o fim do relacionamento com "uma tal Yvette" 4, que o deixara em Vierzon. A solução é prática: o cadáver é deixado dentro do porta-malas do carro, e designa-se um dos rapazes do Simca para conduzir o Caravelle durante os poucos e parcos avanços do congestionamento.
Os moradores da região tratam os motoristas como forasteiros indesejados no local: "em plena noite, alguém jogou uma foice que bateu no teto do DKW" 5. Sabem que aqueles são homens da cidade que pertencem a um mundo completamente diverso do deles. Cortázar não alimenta ilusões a la Blade Runner: diferentemente do final do filme, o campo jamais é representado como uma ilha idílica e receptiva à fuga dos problemas urbanos. Estranhos são tratados como estranhos. Para se abastecer, os motoristas são obrigados a recorrer a intermediários: "o Ford Mercury e um Porsche apareceram todas as noites para traficar com víveres". 6
Esta última frase é o exemplo perfeito do uso que Cortázar faz das metonímias para nomear os personagens do conto. Ninguém é conhecido pelo seu verdadeiro nome. Mesmo que inconscientemente, todos sabem que os dias de convívio na auto-estrada do sul não passam de relacionamentos passageiros; como pessoas que se encontram no elevador ou em algum emprego temporário.
É o que acontece no relacionamento entre o engenheiro do Peugeot 404 e a moça do Dauphine, que acaba por engravidar. O engenheiro chega a alimentar a ilusão de que a relação tornar-se-ia duradoura, e "a idéia de ter um filho dela acabou por parecer-lhe tão natural quanto a distribuição noturna dos mantimentos ou as viagens furtivas até a beira da auto-estrada". 7 Homens adaptam-se facilmente a novas rotinas, e até mesmo a morte no meio do congestionamento é encarada com naturalidade: "tampouco a morte da velha do ID a ninguém podia surpreender". 8
Mas quando todos parecem estar acostumados à nova realidade, eis que as coisas se modificam: "ouviram o tumulto, algo como um pesado mas incontrastável movimento migratório que acordava de um interminável torpor e experimentava suas forças". 9 Cortázar parece querer nos dizer que não existe estabilidade duradoura na vida. Por mais confortável que as coisas pareçam estar, há sempre um elemento de mágico ou de inesperado na vida. A rotina é uma armadilha. Em vários sentidos.
Os carros põem-se em marcha cada vez mais acelerada. No princípio, o Peugeot 404 e o Dauphine correm lado a lado, mas paulatinamente o desencontro entre as diversas pistas paralelas da auto-estrada faz com que os carros afastem-se mais e mais. Logo chega uma hora em que o engenheiro não reconhece nenhum automóvel ao seu lado. "O 404 havia esperado ainda que o avanço e o recuo das filas lhe permitissem chegar novamente até o Dauphine, mas cada minuto o persuadia de que era inútil, de que o grupo se dissolvera irrevogavelmente, de que já não voltariam a repetir-se os encontros de rotina, os rituais mínimos, os conselhos de guerra no automóvel de Taunus, as carícias de Dauphine na paz da madrugada" 10.
À semelhança do soneto de Baudelaire, "A Uma Passante", a frieza das multidões faz com que um possível amor se dilua frente à imensidão das grandes cidades: "[...] fugitiva beldade/De um olhar que me fez nascer segunda vez,/Não mais hei de te rever senão na eternidade?/Longe daqui! tarde demais! nunca talvez!/Pois de ti já me fui, não sei que fim levaste,/Tu que eu teria amado, ó tu que o adivinhaste!" 11 O engenheiro deixou seu casaco de couro no Volkswagen do soldado. Um vidro de lavanda, no 2HP das freiras. Dauphine lhe deixou um ursinho de veludo no carro. Como rastros, lembranças que carregamos em nossa memória, mas que um dia vão embora. No entanto, a moça da Dauphine traz dentro de si um fruto daqueles dias na estrada; como disse Joyce, "o passado jamais passa".
Cortázar encerra o conto escrevendo: "[...] e se corria a oitenta quilômetros por hora em direção às luzes que cresciam pouco a pouco, sem que já se soubesse bem para que tanta pressa, porque essa correria na noite entre automóveis desconhecidos onde ninguém sabia nada sobre os outros, onde todos olhavam fixamente para a frente, exclusivamente para a frente". 12
O conto é uma crítica a este mundo no qual as relações, à semelhança da sociedade consumista e descartável em que vivemos, tornam-se cada vez mais passageiras. É um processo mesmo de "coisificação", como se homens se transformassem em objetos como carros. Uma sociedade na qual queimar índios ou fechar vidros para pedintes na rua torna-se um ato aceitável, facilitado pelo fato de evitarmos dar personalidades, almas a estas pessoas.
Além disso, é um ataque à aceitação passiva da rotina mecanizada em que vivemos. Em outra obra, Histórias de Cronópios e Famas, há uma parte em que Cortázar escreveu "manuais de instrução" para vários atos que repetimos constante e naturalmente: chorar, matar formigas, dar corda no relógio, subir escadas. Porque necessitamos reaprender o mundo - fazemos coisas de modo tão automático, tão "maquinizado" que já se esvaziaram de todo sentido.
A respeito da rotina, escreve Cortázar: "quando abrir a porta e assomar à escada, saberei que lá embaixo começa a rua; não a norma já aceita, não as coisas já conhecidas, não o hotel em frente; a rua, a floresta viva onde cada instante pode jogar-se em cima de mim como uma magnólia, onde os rostos vão nascer quando eu os olhar, quando avançar mais um pouco, quando me arrebentar todo com os cotovelos e as pestanas e as unhas contra a porta do tijolo de cristal, e arriscar minha vida enquanto avanço passo a passo para ir comprar o jornal na esquina" 13. Como disse Garcia Lorca: "só o mistério nos faz viver".
1. CORTÁZAR, Julio. Todos os Fogos o Fogo. Tradução de Gloria Rodriguez. Civilização Brasileira, São Paulo, 5a. ed., p. 3.
2. Op. cit., p. 4.
3. Op. cit., p. 14.
4. Op. cit., p. 18.
5. Op. cit., p. 20.
6. Op. cit., p. 22.
7. Op. cit., p. 23.
8. Op. cit., p. 23.
9. Op. cit., p. 24.
10. Op. cit., p. 26.
11. BAUDELAIRE, Charles. "A Uma Passante", in Flores das "Flores do Mal". Tradução de Guilherme de Almeida. Ediouro, São Paulo.
12. Op. cit., pp. 27-28.
13. CORTÁZAR, Julio. Histórias de Cronópios e Famas. Tradução de Gloria Rodriguez. Civilização Brasileira, São Paulo, 1994, 5a. ed. pp 4-5.
segunda-feira, 26 de abril de 2010
Pão com manteiga
Conta a história que um casal tomava café da manhã no dia de suas bodas de prata.
A mulher passou a manteiga na casca do pão e o entregou para o marido, ficando com o miolo. Ela pensou: "Sempre quis comer a melhor parte do pão, mas amo demais o meu marido e, por 25 anos, sempre lhe dei o miolo. Mas hoje quis satisfazer meu desejo. Acho justo que eu coma o miolo pelo menos uma vez na vida".
Para sua surpresa, o rosto do marido abriu-se num sorriso sem fim e ele lhe disse: "Muito obrigado por este presente, meu amor... Durante 25 anos, sempre desejei comer a casca do pão, mas como você sempre gostou tanto dela, jamais ousei pedir!"
Moral da história:
1. Você precisa dizer claramente o que deseja, não espere que o outro adivinhe...
2. Você pode pensar que está fazendo o melhor para o outro, mas o outro pode estar esperando outra coisa de você...
3. Deixe-o falar, peça-o para falar e quando não entender, não traduza sozinho. Peça que ele se explique melhor.
4. Esse texto pode ser aplicado não só pra relacionamento entre casais, mas também para pais/filhos, amigos e mesmo no trabalho.
PS: Tão simples como um pão com manteiga!
domingo, 18 de abril de 2010
Vinicius de Moraes
Vinicius de Moraes
Para viver um grande amor, preciso é muita concentração e muito siso, muita seriedade e pouco riso — para viver um grande amor.
Para viver um grande amor, mister é ser um homem de uma só mulher; pois ser de muitas, poxa! é de colher... — não tem nenhum valor.
Para viver um grande amor, primeiro é preciso sagrar-se cavalheiro e ser de sua dama por inteiro — seja lá como for. Há que fazer do corpo uma morada onde clausure-se a mulher amada e postar-se de fora com uma espada — para viver um grande amor.
Para viver um grande amor, vos digo, é preciso atenção como o "velho amigo", que porque é só vos quer sempre consigo para iludir o grande amor. É preciso muitíssimo cuidado com quem quer que não esteja apaixonado, pois quem não está, está sempre preparado pra chatear o grande amor.
Para viver um amor, na realidade, há que compenetrar-se da verdade de que não existe amor sem fidelidade — para viver um grande amor. Pois quem trai seu amor por vanidade é um desconhecedor da liberdade, dessa imensa, indizível liberdade que traz um só amor.
Para viver um grande amor, il faut além de fiel, ser bem conhecedor de arte culinária e de judô — para viver um grande amor.
Para viver um grande amor perfeito, não basta ser apenas bom sujeito; é preciso também ter muito peito — peito de remador. É preciso olhar sempre a bem-amada como a sua primeira namorada e sua viúva também, amortalhada no seu finado amor.
É muito necessário ter em vista um crédito de rosas no florista — muito mais, muito mais que na modista! — para aprazer ao grande amor. Pois do que o grande amor quer saber mesmo, é de amor, é de amor, de amor a esmo; depois, um tutuzinho com torresmo conta ponto a favor...
Conta ponto saber fazer coisinhas: ovos mexidos, camarões, sopinhas, molhos, strogonoffs — comidinhas para depois do amor. E o que há de melhor que ir pra cozinha e preparar com amor uma galinha com uma rica e gostosa farofinha, para o seu grande amor?
Para viver um grande amor é muito, muito importante viver sempre junto e até ser, se possível, um só defunto — pra não morrer de dor. É preciso um cuidado permanente não só com o corpo mas também com a mente, pois qualquer "baixo" seu, a amada sente — e esfria um pouco o amor. Há que ser bem cortês sem cortesia; doce e conciliador sem covardia; saber ganhar dinheiro com poesia — para viver um grande amor.
É preciso saber tomar uísque (com o mau bebedor nunca se arrisque!) e ser impermeável ao diz-que-diz-que — que não quer nada com o amor.
Mas tudo isso não adianta nada, se nesta selva oscura e desvairada não se souber achar a bem-amada — para viver um grande amor.
segunda-feira, 8 de março de 2010
Quote from Letters to a Young Poet
element we most accord with, and we have, moreover, through
thousands of years of adaptation, come to resemble this life so greatly
that when we hold still, through a fortunate mimicry we can hardly be
differentiated from everything around us.
We have no reason to harbor any mistrust against our world, for it is not against us. If it has terrors, they are our terrors; if it has abysses, these abysses belong to us; if there
are dangers, we must try to love them. And if only we arrange our life in
accordance with the principle which tells us that we must always trust
in the difficult, then what now appears to us as the most alien will
become our most intimate and trusted experience.
How could we forget those ancient myths that stand at the beginning of all races, the myths
about dragons that at the last moment are transformed into princesses?
Perhaps all the dragons in our lives are princesses who are only waiting
to see us act, just once, with beauty and courage.
Perhaps everything that frightens us is, in its deepest essence, something helpless that
wants our love.¨
Rilke
terça-feira, 13 de outubro de 2009
Mais de Lya Luft
¨Não lembro em que momento percebi que viver deveria ser uma permanente reinvenção de nós mesmos — para não morrermos soterrados na poeira da banalidade embora pareça que ainda estamos vivos.
Mas compreendi, num lampejo: então é isso, então é assim. Apesar dos medos, convém não ser demais fútil nem demais acomodada. Algumas vezes é preciso pegar o touro pelos chifres, mergulhar para depois ver o que acontece: porque a vida não tem de ser sorvida como uma taça que se esvazia, mas como o jarro que se renova a cada gole bebido.
Para reinventar-se é preciso pensar: isso aprendi muito cedo.
Apalpar, no nevoeiro de quem somos, algo que pareça uma essência: isso, mais ou menos, sou eu. Isso é o que eu queria ser, acredito ser, quero me tornar ou já fui. Muita inquietação por baixo das águas do cotidiano. Mais cômodo seria ficar com o travesseiro sobre a cabeça e adotar o lema reconfortante: "Parar pra pensar, nem pensar!"
O problema é que quando menos se espera ele chega, o sorrateiro pensamento que nos faz parar. Pode ser no meio do shopping, no trânsito, na frente da tevê ou do computador. Simplesmente escovando os dentes. Ou na hora da droga, do sexo sem afeto, do desafeto, do rancor, da lamúria, da hesitação e da resignação.
Sem ter programado, a gente pára pra pensar.
Pode ser um susto: como espiar de um berçário confortável para um corredor com mil possibilidades. Cada porta, uma escolha. Muitas vão se abrir para um nada ou para algum absurdo. Outras, para um jardim de promessas. Alguma, para a noite além da cerca. Hora de tirar os disfarces, aposentar as máscaras e reavaliar: reavaliar-se.
Pensar pede audácia, pois refletir é transgredir a ordem do superficial que nos pressiona tanto.
Somos demasiado frívolos: buscamos o atordoamento das mil distrações, corremos de um lado a outro achando que somos grandes cumpridores de tarefas. Quando o primeiro dever seria de vez em quando parar e analisar: quem a gente é, o que fazemos com a nossa vida, o tempo, os amores. E com as obrigações também, é claro, pois não temos sempre cinco anos de idade, quando a prioridade absoluta é dormir abraçado no urso de pelúcia e prosseguir, no sono, o sonho que afinal nessa idade ainda é a vida.
Mas pensar não é apenas a ameaça de enfrentar a alma no espelho: é sair para as varandas de si mesmo e olhar em torno, e quem sabe finalmente respirar.
Compreender: somos inquilinos de algo bem maior do que o nosso pequeno segredo individual. É o poderoso ciclo da existência. Nele todos os desastres e toda a beleza têm significado como fases de um processo.
Se nos escondermos num canto escuro abafando nossos questionamentos, não escutaremos o rumor do vento nas árvores do mundo. Nem compreenderemos que o prato das inevitáveis perdas pode pesar menos do que o dos possíveis ganhos.
Os ganhos ou os danos dependem da perspectiva e possibilidades de quem vai tecendo a sua história. O mundo em si não tem sentido sem o nosso olhar que lhe atribui identidade, sem o nosso pensamento que lhe confere alguma ordem.
Viver, como talvez morrer, é recriar-se: a vida não está aí apenas para ser suportada nem vivida, mas elaborada. Eventualmente reprogramada. Conscientemente executada. Muitas vezes, ousada.
Parece fácil: "escrever a respeito das coisas é fácil", já me disseram. Eu sei. Mas não é preciso realizar nada de espetacular, nem desejar nada excepcional. Não é preciso nem mesmo ser brilhante, importante, admirado.
Para viver de verdade, pensando e repensando a existência, para que ela valha a pena, é preciso ser amado; e amar; e amar-se. Ter esperança; qualquer esperança.
Questionar o que nos é imposto, sem rebeldias insensatas mas sem demasiada sensatez. Saborear o bom, mas aqui e ali enfrentar o ruim. Suportar sem se submeter, aceitar sem se humilhar, entregar-se sem renunciar a si mesmo e à possível dignidade.
Sonhar, porque se desistimos disso apaga-se a última claridade e nada mais valerá a pena. Escapar, na liberdade do pensamento, desse espírito de manada que trabalha obstinadamente para nos enquadrar, seja lá no que for.
E que o mínimo que a gente faça seja, a cada momento, o melhor que afinal se conseguiu fazer. ¨
Canção das mulheres - Lya Luft
Que o outro note quando preciso de silêncio e não vá embora batendo a porta, mas entenda que não o amarei menos porque estou quieta.
Que o outro aceite que me preocupo com ele e não se irrite com minha solicitude, e se ela for excessiva saiba me dizer isso com delicadeza ou bom humor.
Que o outro perceba minha fragilidade e não ria de mim, nem se aproveite disso.
Que se eu faço uma bobagem o outro goste um pouco mais de mim, porque também preciso poder fazer tolices tantas vezes.
Que se estou apenas cansada o outro não pense logo que estou nervosa, ou doente, ou agressiva, nem diga que reclamo demais.
Que o outro sinta quanto me dóia idéia da perda, e ouse ficar comigo um pouco - em lugar de voltar logo à sua vida.
Que se estou numa fase ruim o outro seja meu cúmplice, mas sem fazer alarde nem dizendo ''Olha que estou tendo muita paciência com você!''
Que quando sem querer eu digo uma coisa bem inadequada diante de mais pessoas, o outro não me exponha nem me ridicularize.
Que se eventualmente perco a paciência, perco a graça e perco a compostura, o outro ainda assim me ache linda e me admire.
Que o outro não me considere sempre disponível, sempre necessariamente compreensiva, mas me aceite quando não estou podendo ser nada disso.
Que, finalmente, o outro entenda que mesmo se às vezes me esforço, não sou, nem devo ser, a mulher-maravilha, mas apenas uma pessoa: vulnerável e forte, incapaz e gloriosa, assustada e audaciosa - uma mulher¨
quinta-feira, 8 de outubro de 2009
Pensar é transgredir
Ou na hora da droga, do sexo sem afeto, do desafeto, da lamúria, da hesitacão. Sem ter programado, a gente pára para pensar. É como espiar para um corredor com mil possibilidades. Cada porta uma escolha.
Muitas vão se abrir para um nada, outras para um jardim de promessas. Hora de tirar os disfarces, aposentar as máscaras e reavaliar, reavaliar-se.
Pensar pede audácia, pois refletir é transgredir a ordem do superficial que nos esmaga.¨
Do livro que estou lendo: Pensar é Transgredir, da autora Lya Luft.
quarta-feira, 26 de agosto de 2009
Happiness and sadness is just a matter of attitude.
¨At one stage, I thought I had pretty much figured out the whole God thing. I now realise how arrogant that was and how little I know. There was a time when I pursued society’s version of success. These days I’m more interested in my version. For a long time I chased happiness. Now I gratefully accept it. At one stage my life was full of problems. Now it’s full of lessons. For a while there I hated silence and solitude. Now I crave it. I thought that situations and other people created stress in my life. Now I know that I am the creator of stress. And calm.¨
The meaningless become meaningful. But only because we made it so.
terça-feira, 25 de agosto de 2009
Seja o que você quer ser, porque você possui apenas uma vida
e nela só se tem uma chance de fazer aquilo que se quer.
Tenha felicidade bastante para fazê-la doce, dificuldades para fazê-la forte,
tristeza para fazê-la humana e esperança suficiente para fazê-la feliz.
As pessoas mais felizes não têm as melhores coisas, elas sabem fazer o melhor
das oportunidades que aparecem em seus caminhos.
A felicidade aparece para aqueles que choram;
para aqueles que se machucam;
para aqueles que buscam e tentam sempre.
E para aqueles que reconhecem a importância
das pessoas que passam por suas vidas."
(Clarice Lispector )
quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009
O Pequeno Príncipe - XXVI
XXVI
Havia, ao lado do poço, a ruína de um velho muro de pedra. Quando voltei do trabalho, no dia seguinte, vi, de longe, o principezinho sentado no alto, com as pernas balançando. E eu o escutei dizer:
- Tu não te lembras então? Não foi bem aqui o lugar!
Uma outra voz devia responder-lhe, porque replicou em seguida:
- Não; não estou enganado. O dia é este, mas não o lugar...
Prossegui o caminho para o muro. Continuava a não ver ninguém. No entanto o principezinho replicou novamente:
- ... Está bem. Tu verás onde começa, na areia, o sinal dos meus passos. Basta esperar-me. Estarei ali esta noite.
Eu me achava a vinte metros do muro e continuava a não ver nada. O principezinho disse ainda, após um silêncio:
- O teu veneno é do bom? Estás certa de que não vou sofrer muito tempo?
Parei, o coração apertado, sem compreender ainda.
- Agora, vai-te embora, disse ele... eu quero descer!

Então baixei os olhos para o pé do muro, e dei um salto! Lá estava, erguida para o principezinho, uma dessas serpentes amarelas que nos liquidam num minuto. Enquanto procurava o revólver no bolso, dei uma rápida corrida.
Mas, percebendo o barulho, a serpente se foi encolhendo lentamente, como um repuxo que morre. E, sem se apressar demais, enfiou-se entre as pedras, num leve tinir de metal.
Cheguei ao muro a tempo de receber nos braços o meu caro principezinho, pálido como a neve.
- Que história é essa? Tu conversas agora com as serpentes?
Desatei o nó do seu eterno lenço dourado. Umedeci-lhe as têmporas. Dei-lhe água. E agora, não ousava perguntar-lhe coisa alguma. Olhou-me gravemente e passou-me os bracinhos no pescoço. Sentia-lhe o coração bater de encontro ao meu, como o de um pássaro que morre, atingido pela carabina. Ele me disse:
- Estou contente de teres descoberto o defeito do maquinismo. Vais poder voltar para casa...
- Como soubeste disso?
- Eu vinha justamente anunciar-lhe que, contra toda expectativa, havia realizado o conserto!
Nada respondeu à minha pergunta, mas acrescentou:
- Eu também volto hoje para casa...
Depois, com melancolia, ele disse:
- É bem mais longe... bem mais difícil...
Eu percebia claramente que algo de extraordinário se passava. Apertava-o nos braços como se fosse uma criancinha; mas tinha a impressão de que ele ia deslizando verticalmente no abismo, sem que eu nada pudesse fazer para detê-lo...
Seu olhar estava sério, perdido ao longe:
- Tenho o teu carneiro. E a caixa para o carneiro. E a mordaça...
Ele sorriu com tristeza.
Esperei muito tempo. Pareceu-me que ele ia se aquecendo de novo, pouco a pouco:
- Meu querido, tu tiveste medo...
É claro que tivera. Mas ele sorriu docemente.
- Terei mais medo ainda esta noite...
O sentimento do irreparável gelou-me de novo. E eu compreendi que não podia suportar a idéia de nunca mais escutar esse riso. Ele era para mim como uma fonte no deserto.
- Meu bem, eu quero ainda escutar o teu riso...
Mas ele me disse:
- Faz um ano esta noite. Minha estrela se achará justamente em cima do lugar onde eu caí o ano passado...
- Meu bem, não será um sonho mau essa história d serpente, de encontro marcado, de estrela?
Mas não respondeu à minha pergunta. E disse:
- O que é importante, a gente não vê...
- A gente não vê...
- Será como a flor. Se tu amas uma flor que se acha numa estrela, é doce, de noite, olhar o céu. Todas as estrelas estão floridas.
- Todas as estrelas estão floridas.
- Será como a água. Aquela que me deste parecia música, por causa da roldana e da corda... Lembras-te como era boa?
- Lembro-me...
- Tu olharás, de noite, as estrelas. Onde eu moro é muito pequeno, para que eu possa te mostrar onde se encontra a minha. É melhor assim, Minha estrela será então qualquer das estrelas. Gostarás de olhar todas elas... Serão, todas, tuas amigas. E depois, eu vou fazer-te um presente...
Ele riu outra vez.
- Ah! meu pedacinho de gente, meu amor, como eu gosto de ouvir esse riso!
- Pois é ele o meu presente... será como a água...
- Que queres dizer?
- As pessoas têm estrelas que não são as mesmas. para uns, que viajam, as estrelas são guias. Para outros, elas não passam de pequenas luzes. Para outros, os sábios, são problemas. Para o meu negociante, eram ouro. mas todas essas estrelas se calam. Tu, porém, terás estrelas como ninguém...
- Que queres dizer?
- Quando olhares o céu de noite, porque habitarei uma delas, porque numa delas estarei rindo, então será como se todas as estrelas te rissem! E tu terás estrelas que sabem rir!
E ele riu mais uma vez.
- E quando te houveres consolado (a gente sempre se consola), tu te sentirás contente por me teres conhecido. Tu serás sempre meu amigo. Terás vontade de rir comigo. E abrirás às vezes a janela à toa, por gosto... E teus amigos ficarão espantados de ouvir-te rir olhando o céu. Tu explicarás então: "Sim, as estrelas, elas sempre me fazem rir!" E eles te julgarão maluco. Será uma peça que te prego...
E riu de novo.
- Será como se eu te houvesse dado, em vez de estrelas, montões de guizos que riem...
E riu de novo, mais uma vez. Depois, ficou sério:
- Esta noite... tu sabes... não venhas.
- Eu não te deixarei.
- Eu parecerei sofrer... eu parecerei morrer. É assim. Não venhas ver. Não vale a pena...
- Eu não te deixarei.
Mas ele estava preocupado.
- Eu digo isto... também por causa da serpente. É preciso que não te morda. As serpentes são más. Podem morder por gosto...
- Eu não te deixarei.
Mas uma coisa o tranqüilizou:
- Elas não têm veneno, é verdade, para uma segunda mordida...
Essa noite, não o vi pôr-se a caminho. Evadiu-se sem rumor. Quando consegui apanhá-lo, caminhava decidido, a passo rápido. Disse-me apenas:
- Ah! estás aqui...
E ele me tomou pela mão. Mas afligiu-se ainda:
- Fizeste mal. Tu sofrerás. Eu parecerei morto e não será verdade...
Eu me calava.
- Tu compreendes. É longe demais. Eu não posso carregar este corpo. É muito pesado.
Eu me calava.
- Mas será como uma velha casca abandonada. Uma casca de árvore não é triste...
Eu me calava.
Perdeu um pouco de coragem. Mas fez ainda um esforço:
- Será bonito, sabes? Eu também olharei as estrelas. Todas as estrelas serão poços com uma roldana enferrujada. Todas as estrelas me darão de beber...
Eu me calava.
- Será tão divertido! Tu terás quinhentos milhões de guizos, eu terei quinhentos milhões de fontes...
E ele se calou também, porque estava chorando...
- É aqui. Deixa-me dar um passo sozinho.

E sentou-se, porque tinha medo.
Disse ainda:
- Tu sabes... minha flor... eu sou responsável por ela! Ela é tão frágil! Tão ingênua! Tem quatro espinhos de nada para defendê-la do mundo...
Eu sentei-me também, pois não podia mais ficar de pé.

Ele disse:
- Pronto... Acabou-se...
Hesitou ainda um pouco, depois ergueu-se. Deu um passo. Eu... eu não podia mover-me.
Houve apenas um clarão amarelo perto da sua perna. Permaneceu, por um instante, imóvel. Não gritou. Tombou devagarinho como uma árvore tomba.

Nem fez sequer barulho, por causa da areia.
domingo, 25 de janeiro de 2009
Texto de Clarice Lispector
Já segurei nas mãos de alguém por medo, já tive tanto medo, ao ponto de nem sentir minhas mãos.
Já expulsei pessoas que amava de minha vida, já me arrependi por isso.
Já passei noites chorando até pegar no sono, já fui dormir tão feliz, ao ponto de nem conseguir fechar os olhos.
Já acreditei em amores perfeitos, já descobri que eles não existem.
Já amei pessoas que me decepcionaram, já decepcionei pessoas que me amaram.
Já passei horas na frente do espelho tentando descobrir quem sou, já tive tanta certeza de mim, ao ponto de querer sumir.
Já menti e me arrependi depois, já falei a verdade e também me arrependi.
Já fingi não dar importância às pessoas que amava, para mais tarde chorar quieta em meu canto.
Já sorri chorando lágrimas de tristeza, já chorei de tanto rir.
Já acreditei em pessoas que não valiam a pena, já deixei de acreditar nas que realmente valiam.
Já tive crises de riso quando não podia.
Já quebrei pratos, copos e vasos, de raiva.
Já senti muita falta de alguém, mas nunca lhe disse.
Já gritei quando deveria calar, já calei quando deveria gritar.
Muitas vezes deixei de falar o que penso para agradar uns, outras vezes falei o que não pensava para magoar outros.
Já fingi ser o que não sou para agradar uns, já fingi ser o que não sou para desagradar outros.
Já contei piadas e mais piadas sem graça, apenas para ver um amigo feliz.
Já inventei histórias com final feliz para dar esperança a quem precisava.
Já sonhei demais, ao ponto de confundir com a realidade... Já tive medo do escuro, e hoje, continuo a ter.
Já cai inúmeras vezes achando que não iria me reerguer, já me reergui inúmeras vezes achando que não cairia mais.
Já liguei para quem não queria apenas para não ligar para quem realmente queria.
Já corri atrás de um carro, por ele levar embora, quem eu amava.
Já chamei pela mamãe no meio da noite fugindo de um pesadelo. Mas ela não apareceu e foi um pesadelo maior ainda.
Já chamei pessoas próximas de "amigo" e descobri que não eram... Algumas pessoas nunca precisei chamar de nada e sempre foram e serão especiais para mim.
Não me dêem fórmulas certas, porque eu não espero acertar sempre.
Não me mostre o que esperam de mim, porque vou seguir meu coração!
Não me façam ser o que não sou, não me convidem a ser igual, porque sinceramente sou diferente!
Não sei amar pela metade, não sei viver de mentiras, não sei voar com os pés no chão.
Sou sempre eu mesma, mas com certeza não serei a mesma pra sempre!
Clarice Lispector
quarta-feira, 26 de novembro de 2008
Fruto do mato
Cheiro de jardim
Namoro no portão
Domingo sem chuva
Segunda sem mal humor
Sábado com seu amor
Filme do Carlitos
Chope com os amigos
Crônica de Rubem Braga
Viver sem inimigos
Filme antigo na TV
Ter uma pessoa especial
E que ela goste de você
Música de Tom com letra de Chico
Frango caipira em pensão do interior
Ouvir uma palavra amável
Ter uma surpresa agradável
Ver a banda passar
Noite de lua cheia
Rever uma velha amizade
Ter fé em Deus
Não ter que ouvir a palavra não
Nem nunca, nem jamais e adeus.
Rir como criança
Ouvir canto de passarinho
Sarar de resfriado
Escrever um poema de amor
Que nunca será rasgado
Formar um par ideal
Tomar banho de cachoeira
Pegar um bronzeado legal
Aprender uma nova canção
Esperar alguém na estação
Queijo com goiabada
Pôr-do-sol na roça
Uma festa
Um violão
Uma seresta
Recordar um amor antigo
Ter um ombro sempre amigo
Bater palmas de alegria
Uma tarde amena
Calçar um velho chinelo
Sentar numa velha poltrona
Tocar violão para alguém
Ouvir a chuva no telhado
Vinho branco
Bolero de Ravel
E muito carinho meu.
Carlos Drummond de Andrade
segunda-feira, 24 de novembro de 2008
Para pessoas invejosasss...rs
Conta a lenda que uma vez uma serpente começou a perseguir um vagalume.
Este fugia rápido, com medo da feroz predadora e a serpente nem pensava em desistir.
Fugiu um dia e ela não desistia, dois dias e nada...
No terceiro dia, já sem forças o vagalume parou e disse a cobra:
-Posso lhe fazer três perguntas?
-Não costumo abrir esse precedente para ninguém, mas já que vou te devorar mesmo, pode perguntar...
- Pertenço a sua cadeia alimentar?
- Não
-Eu te fiz algum mal?
- Não.
-Então, por que você quer acabar comigo?
- Por que não suporto ver você brilhar ....
Amigo é...
do que somente o lado esquerdo do peito...
amigo é aquele com quem choro...
é aquele com quem sorrio...
é aquele com quem exploro
riachos e cachoeiras dentro de mim.
Amigo é um só.
Não importa se tenho um ou cem.
Cada um... em cada momento...
È especial... é único, é vital...
Amigo não se escolhe...
Não se "pede" ninguém em amizade...
Ela existe ou não...
Sem tempo pré determinado...
sem prazo pra iniciar.
Amizade é sentimento... é afeto, amor,
respeito... veracidade, troca, carinho,
cumplicidade... É um beijo... um abraço
quarta-feira, 12 de novembro de 2008
Texto de Roberto Shinyashiki
acabar com nossa espécie.
É preciso começar a trocar carícias, a proporcionar prazer, a fazer com o outro todas as coisas boas
que a gente tem vontade de fazer e não faz, porque "não fica bem" mostrar bons sentimentos! No nosso
mundo negociante e competitivo, mostrar amor é ... um mau negócio. O outro vai aproveitar, explorar,
cobrar... Chega de negociar com sentimentos e sensações. Negócio é de coisas e de dinheiro - e pronto!
Bendito Skinner - apesar de tudo! Ele mostrou por A mais B que só são estáveis os condicionamentos
recompensados; aqueles baseados na dor precisam ser reforçados sempre - senão desaparecem. Vamos
nos reforçar positivamente.
É o jeito - o único jeito - de começar um novo tipo de convívio social - uma nova estrutura - um
mundo melhor.
Freud ajudou a atrapalhar mostrando o quanto nós escondemos de ruim; mas é fácil ver que nós
escondemos também tudo o que é bom em nós, a ternura, o encantamento, o agrado em ver, em acariciar,
em cooperar, a gentileza, a alegria, o romantismo, a poesia, sobretudo o brincar – com o outro. Tudo tem
que ser sério, respeitável, comedido - fúnebre, chato, restritivo, contido...
Há mais pontos sensíveis em nosso corpo do que estrelas num céu invernal.
"Desejo", latim de-si-derio; provém da raiz "sid", da língua zenda, significando ESTRELA como se vê
em sideral - relativo às estrelas.
Seguir o desejo é seguir a estrela - estar orientado - saber para onde se vai - conhecer a direção...
"Gente é para brilhar" diz mestre Caetano.
Gente é, demonstravelmente, a maior maravilha, o maior playground e a mais complexa máquina
neuro-mecânica do Universo Conhecido. Diz o Psicanalista que todos nós sofremos de mania de grandeza,
de onipotência.
A mim parece que sofremos todos de mania de pequenez.
Qual o homem que se assume em toda a sua grandeza natural? "Quem sou eu, primo..." Em vez de
admirar, nós invejamos por não termos coragem de fazer o que nossa estrela determina.
O Medo - eis o inimigo.
O medo principalmente do outro, que observa atentamente tudo o que fazemos - sempre pronto a
criticar, a condenar, a pôr restrições - porque fazemos diferente dele.
Só por isso. Nossa diferença diz para ele que sua mesmidade não é necessária. Que ele também
pode tentar ser livre - seguindo sua estrela. Que sua prisão não tem paredes de pedra, nem correntes de
ferro. Como a de Branca de Neve, sua prisão é de cristal – invisível..
Só existe na sua cabeça. Mas sua cabeça contém - é preciso que se diga - todos os outros - que de
dentro dele o observam, criticam, cometem - às vezes até elogiam!
Porque vivemos fazendo isso uns com os outros - nos vigiando e nos obrigando - todos contra todos
- a ficarmos bonzinhos dentro das regrinhas do bem comportado - pequenos, pequenos. Sofremos de
Megalomania porque no palco social nos obrigamos a ser, todos; anões. Ai de quem se salienta - fazendo
de repente o que lhe deu na cabeça.
Fogueira para ele! Ou V. pensa que a fogueira só existiu na Idade Média?
Nós nos obrigamos a ser - todos - pequenos, insignificantes, apesar do grego - melhor ainda.
Oligotímicos - sentimentos pequenos - é o ideal ...
Quem é o iluminado?
No seu tempo, é sempre um louco delirante que faz tudo diferente de todos. Ele sofre,
principalmente, de um alto senso de dignidade humana - o que o torna insuportável para todos os próximos
- que são indignos.
Ele sofre, depois, de uma completa cegueira em relação à "realidade" (convencional) que ele não
respeita nem um pouco. Ama desbragadamente - o sem-vergonha. Comporta-se como se as pessoas
merecessem confianca, como se todos fossem bons, como se toda criatura fosse amável, linda, admirável.
Assim ele vai deixando um rastro de luz por onde quer que passe.
Porque se encanta, porque se apaixona, porque abraça com calor e com amor, porque sorri e é feliz.
sábado, 11 de outubro de 2008
100 coisas para não fazer...rs
Visitar o Taj Mahal — Conhecer o mausoléu transformado em declaração póstuma de amor é item obrigatório dos viajantes aventureiros. Atente-se para o fato de que o monumento é cercado de Índia por todos os lados: o rio cheira mal, o calor é insuportável, mendigos imploram por trocados e, acima de tudo, há turistas demais. Todos, sem exceção, tirando fotos que serão versões pioradas das imagens dos cartões-postais e guias de turismo. "Eu estive no Taj Mahal e acho que acontece o mesmo que com as pirâmides do Egito e com Machu Picchu: já vimos tanto na televisão e em fotos que, ao vivo, não são tão bonitos. Também dizem que é incrível mergulhar nas Maldivas, mas eu nem sei nadar. E aposto que muitas daquelas cenas eu vi em Procurando Nemo", disse Wilson a VEJA.
Conhecer vinho – Algumas pessoas nasceram no terreiro, outras no terroir. É possível, com grande esforço, fazer a transposição de um para o outro. Se não tiver jeito para a coisa, faça como todo mundo e escolha o vinho pelo preço. Saiba que a lei da oferta e da procura funciona: os mais caros são os melhores e os menos caros são os não tão bons.
Aprender outra língua – Grego antigo, alemão moderno, mandarim? Quem já fala no mínimo outros três idiomas pode se dispensar da obrigação. A regra só não serve para mulheres solteiras que querem usar o método de aprender italiano, na Itália, usando o universal e comprovado método de namorar um local.
Ler Guerra e Paz – Ou Ulisses, ou a Ilíada. São obras-primas da literatura, é verdade. Mas ninguém é obrigado a ler suas centenas de páginas se não aproveitar de verdade. Em resumo: não acabe um livro de que você não gosta. Leia outra coisa.
Completar uma maratona – Não basta caminhar na esteira, correr no parque, gastar o calçadão? Para os obcecados por saúde, quem nunca correu 42 quilômetros, como o soldado grego Feidípedes (que morreu depois de completar o trajeto entre Maratona e Atenas), é um sedentário comedor de pipoca na frente da televisão. Se der muita vontade, deite e espere passar.
Pôr em prática o Kama Sutra – Ou fazer sexo na praia. Ou no avião. Sexo é prazer, não competição. "Desde quando contorção corporal é coisa erótica?", pergunta Jordison em seu livro. Sem o peso da obrigatoriedade, quem sabe surjam umas idéias.
Assistir a Boca Juniors e River Plate no Bombonera, em Buenos Aires – Ou ao Fla-Flu no Maracanã, a Corinthians e Palmeiras no Pacaembu (quando o Timão sair da segunda divisão). Quem torce por algum dos times já foi. Quem não torce ficará impressionado por não mais que quinze minutos. E ainda restarão 75 – de péssima comida e banheiros muito, muito sujos.
Pular de pára-quedas – Ou fazer bungee jumping. Ou, radicalismo dos radicalismos, praticar o "zorbing", assustadora modalidade em que o praticante é colocado em uma bola gigante, muitas vezes cheia de água, que rola morro abaixo. "Nunca tinha ouvido falar nisso até ler as listas do que fazer. Se você é viciado em adrenalina, faz sentido. Eu sofri um acidente de carro e posso dizer que a sensação é a mesma. Taquicardia, frio e tremedeira. É muito desagradável", descreve Jordison.
Ir a uma praia de nudismo – Além de correr o risco de sofrer queimaduras em áreas nunca dantes bronzeadas, você se sentirá inferior diante de corpos mais bonitos ou constrangido por outros nem tanto. E passará o dia sendo examinado por estranhos.
Ficar rico – Se não ficou até agora...
sexta-feira, 12 de setembro de 2008
Use filtro solar
By Mary Schmich
Ladies and Gentlemen of the class of '97... wear sunscreen.
If I could offer you only one tip for the future, sunscreen would be IT.
The long term benefits of sunscreen have been proved by scientists whereas the rest of my advice has no basis more reliable than my own meandering experience.
I will dispense this advice now.
Enjoy the power and beauty of your youth. Never mind. You will not understand the power and beauty of your youth until they have faded. But trust me, in 20 years you'll look back at photos of yourself and recall in a way you can't grasp now how much possibility lay before you and how fabulous you really looked.
You are NOT as fat as you imagine.
Don't worry about the future; or worry, but know that worrying is as effective as trying to solve an algebra equation by chewing bubblegum. The real troubles in your life are apt to be things that never crossed your worried mind; the kind that blindside you at 4pm on some idle Tuesday.
Do one thing every day that scares you.
Sing.
Don't be reckless with other people's hearts, don't put up with people who are reckless with yours.
Floss.
Don't waste your time on jealousy; sometimes you're ahead, sometimes you're behind. The race is long, and in the end, it's only with yourself.
Remember compliments you receive, forget the insults; if you succeed in doing this, tell me how.
Keep your old love letters, throw away your old bank statements.
Stretch.
Don't feel guilty if you don't know what you want to do with your life. The most interesting people I know didn't know at 22 what they wanted to do with their lives, some of the most interesting 40 year olds I know still don't.
Get plenty of calcium.
Be kind to your knees, you'll miss them when they're gone.
Maybe you'll marry, maybe you won't, maybe you'll have children, maybe you won't, maybe you'll divorce at 40, maybe you'll dance the funky chicken on your 75th wedding anniversary. Whatever you do, don't congratulate yourself too much or berate yourself, either. Your choices are half chance, so are everybody else's. Enjoy your body, use it every way you can. Don't be afraid of it, or what other people think of it, it's the greatest instrument you'll ever own.
Dance. Even if you have nowhere to do it but in your own living room.
Read the directions, even if you don't follow them.
Do NOT read beauty magazines, they will only make you feel ugly.
Get to know your parents, you never know when they'll be gone for good.
Be nice to your siblings; they are your best link to your past and the people most likely to stick with you in the future.
Understand that friends come and go, but for the precious few you should hold on. Work hard to bridge the gaps in geography in lifestyle because the older you get, the more you need the people you knew when you were young.
Live in New York City once, but leave before it makes you hard; live in Northern California once, but leave before it makes you soft.
Travel..
Accept certain inalienable truths, prices will rise, politicians will philander, you too will get old, and when you do you'll fantasize that when you were young prices were reasonable, politicians were noble and children respected their elders.
Respect your elders.
Don't expect anyone else to support you. Maybe you have a trust fund, maybe you'll have a wealthy spouse; but you never know when either one might run out.
Don't mess too much with your hair, or by the time you're 40, it will look 85.
Be careful whose advice you buy, but, be patient with those who supply it. Advice is a form of nostalgia, dispensing it is a way of fishing the past from the disposal, wiping it off, painting over the ugly parts and recycling it for more than it's worth.
But trust me on the sunscreen.
domingo, 7 de setembro de 2008
Como manter-se jovem

1. Deixe fora os números que não são essenciais. Isto inclui a idade, o peso e a altura.
Deixe que os médicos se preocupem com isso.
2. Mantenha só os amigos divertidos. Os depressivos puxam para baixo - ajude-os.
(Lembre-se disto se for um desses depressivos!)

3. Aprenda sempre:
Aprenda mais sobre computadores, artes, jardinagem, o que quer que seja. Não deixe que o cérebro se torne preguiçoso.
'Uma mente preguiçosa é oficina do Alemão.' E o nome do Alemão é Alzheimer!
4. Aprecie as pequenas coisas

5. Ria muitas vezes, durante muito tempo e alto. Ria até lhe faltar o ar.
E se tiver um amigo que o faça rir, passe muito e muito tempo com ele / ela!

6. Quando as lágrimas aparecerem
Agüente, sofra e ultrapasse.
A única pessoa que fica conosco toda a nossa vida somos nós próprios.
VIVA enquanto estiver vivo.
7. Rodeie-se das coisas que ama:
Quer seja a família, animais, plantas, hobbies, o que quer que seja.
O seu lar é o seu refugio.

8. Tome cuidado com a sua saúde:
Se é boa, mantenha-a.
Se é instável, melhore-a.
Se não consegue melhorá-la , procure ajuda.
9. Não faça viagens de culpa. Faça uma viagem ao centro comercial, até a um país diferente, mas NÃO para onde haja culpa

10. Diga às pessoas que ama que as ama a cada oportunidade.

E, se não mandar isto a pelo menos quatro pessoas - quem é que se importa?
Serão apenas menos quatro pessoas que deixarão de sorrir ao ver uma mensagem sua.
Mas se puder pelo menos compartilhe com alguém!

TENHAM UM DIA LINDO!!!